sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

SALÁRIO MICO

É triste saber, que uma das maiores glórias atuais da economia brasileira, é ter recuperado um pouco o salário mínimo. Que tal salário mico? Isto prova que não conseguimos sair do vício social casa grande x senzala. Ao escravo que se dê o mínimo: um pano para cobrir a metade do corpo, um punhado de comida para a metade do estômago, um curral para dormir com a metade dos animais, uma noite de sábado para curtir uma metade de descanso. Sei que o Governo Federal não tem culpa disto. Não podemos sobrecarregá-lo por um desgaste histórico. Mas quando é que o Brasil irá rever os problemas cruciais encrustados em suas raízes históricas? Quando a burguesia brasileira abrirá mão de si, para abraçar sem demagogia ao pobre oprimido? Quando deixaremos de ser uma nação de castas sucessivas? Quando inauguraremos um grande debate que seja capaz de enfrentar estas feridas culturais e históricas?

sábado, 27 de novembro de 2010

UMEF JUÍZ JAIRO MATTOS - A Escola Modelo de Educação na Grande Vitória

No mês passado visitei no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro uma Exposição sobre o Islã. Saí encantado, por três andares resplandecendo a cultura árabe e sua influência a partir da expansão muçulmana, o que tem tudo a ver conosco. Por quê? Pois em 711, o Califa Gibral Al Tarik entrou na região ibérica e iniciou assim a grande influência árabe em Portugal e Espanha. Por esta razão chamamos o estreito entre Europa e África de Estreito de Gibraltar (homenagem ao Califa Gibral Al Tarik).
Mas vamos deixar isto de lado e falar de uma outra magnífica exposição que pude visitar, denominada de Mostra Cultural, numa Escola no Bairro de São Torquato, Município de Vila Velha, pertencente à Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo.
Esta Mostra Cultural foi além das outras que já vi. Envolvendo todos os partícipes da comunidade escolar (Diretor, Pedagogos, Coordenadores, Professores, Alunos, Funcionários de Apoio, Comunidade), conseguiu na diversidade de seus trabalhos demonstrados tecer uma unidade de fundamento histórico-cultural-social, abrangendo a interdisciplinaridade sem se perder na fluidez do inter-diálogo, mas ampliando para uma arte dialógica com a sociedade, o estado, o país, o planeta e o universo. Conduzindo para uma reflexão contextual da universalização cidadã. Reintegrando numa síntese física, biológica, psíquica, cultural, social e histórica a verdade maior do ser humano e seu destino planetário. Provando que o novo rompe como semente de idéia na alma humana, no campo multidimensional galgando a complexidade do conhecimento, elevando-se sobre a redução do saber, quando perdido nos meandros de um controle estacionário.
Percebemos também a sintonia presente da transversalidade cultural, avançando além das informações inerentes, mas caminhando para uma fluidez do desenvolvimento emergente e dinâmico do conhecimento contextual.
Isto aconteceu no sábado, dia 20/11/2010, onde a Escola Jairo Mattos movimentava-se como um organismo vivo, producente, eficaz, eficiente resplandecido nas multifaces de todos os atores e platéia, que se intercambiavam de posições, numa demonstração que o povo brasileiro é capaz de sortir cultura e conhecimento, quando o ambiente lhe é oportuno e respeituoso.
Esta Mostra ecoou em mim, como um grande grito de liberdade republicana e democrática, de independência, de aquisição de valores, de respeito à vida, ao meio ambiente e de responsabilidade com o futuro. Ela traduziu um salto sobre a falsa racionalidade científica, porque conjugou as partes dos objetos produzidos numa totalidade de objetivo, numa rima de análise e síntese.
Olhe, que tudo isto aconteceu numa região pobre, massacrada ao longo dos séculos pelo violento capitalismo brasileiro, mas que demonstrou um avanço transcendental que com certeza refletirá nas novas gerações.
Isto que é Educação de Verdade e não Educação de Discurso. Portanto, Parabéns ao DIRETOR MARCELO PEREIRA, AOS PEDAGOGOS, COORDENADORES, PROFESSORES, ELEMENTOS DE APOIO E COMUNIDADE DE SÃO TORQUATO-MUNICÍPIO DE VILA VELHA-ES.
José Luiz Teixeira do Amaral

A FORTE CENTRALIZAÇÃO DO PODER NO BRASIL, por José Luiz Teixeira do Amaral

Mergulhando nas profundidades de nossas raízes, numa linguagem fenomênica de nossa história, vamos demonstrar porque há uma forte centralização do poder no Brasil.
A presidência do Brasil é uma realeza disfarçada e por mais que se modifique nossa Constituição, como a de 1988, com requinte parlamentarista, uma vez que o governo está refém de câmaras, assembléias e congresso, na prática é dos atos governamentais e das maõs dos dirigentes que o povo espera as grandes mudanças fundamentais da Nação. Por que o povo procede assim, desviando seus olhos dos poderes legislativo e judiciário?
Como um psicanalista historiador, ou um detetive da história, interpretando o passado longínquo, relembramos que quando os italianos(ainda não Itália, nesta época) que dominavam o comércio do Mediterrâneo para a Europa, se viram impossibilitados de controlarem as vias terrestres no interior do continente europeu, devido à Guerra do Cem Anos (1337-1453), onde França e Inglaterra disputavam territórios e a definição de suas fronteiras, gerando uma desorganização social, juntamente com a Peste Negra proveniente da falta de saneamento frente ao aumento populacional e à situação bélica; encontraram estes povos italianos uma solução no leste europeu, usando os portos portugueses (Portuscalis = Portugal = Portos das Gálias), para ancorarem suas embarcações, reabastecerem de víveres e água, para galgarem a Europa pelo norte.
Os portugueses aproveitaram esta oportunidade mui sabiamente, envolvendo-se nestas baldiações marítimas ao ponto de dominá-las e adquirir a vanguarda das mesmas, favorecidos pela sua elite mercantil, seus conhecimentos marítimos, sua boa produção agrícola, sua experiência pesqueira, juntamente com um espírito dinâmico de trabalho que certamente provém do caldeirão de muitos povos que os formaram.
O leitor pode observar que o grupo mercantil português vai se tornando aos poucos, cada vez mais forte e centralizado em torno de um Soberano. Surge uma nova crise em Portugal. Em 1383 falece o Rei D.Fernando, que não possuía filho varão e sua única filha D.Beatriz era casada com D.João I, Rei de Castela.
Isto não foi aceito de forma nenhuma pela burguesia mercantil, pois retrocederiam ao tempo, caindo nas mãos de um feudalismo ultrapassado para o momento econômico que sustentavam.
Como resposta ao trono vazio, entre 1383 a 1385, provocaram uma guerra contra Castela e aclamaram o Mestre Avis, para Rei de Portugal com o título de D.João I, de forma que este filho bastardo de D.Pedro I, pai de D.Fernando, inicia a Dinastia de Avis, após uma vitória esplendorosa em Aljubarrota.
Aí reside um ponto fundamental e o cerne de uma questão tratada com respeito à centralização e ao fortalecimento do poder, de onde gira toda esta questão que nos envolve até aos dias atuais.
Da forma supra citada, Portugal explode como Estado Moderno Inaugural, dentro da Europa, com uma burguesia comercial-mercantil fortíssima e deixa para trás todas as crises envelhecidas do feudalismo decadente e fracassado para uma nova atualidade sócio-econômica.
A Revolução de Avis incrementa na mentalidade pública a supremacia portuguesa, a independência e o absolutismo do poder real. A nobreza que já não encontra espaço de sobrevivência, busca como âncora de salvação sua dependência ao Rei e procura no sentido de expansão em prática naquele momento um objetivo de cruzada.
Percebem que os portais do Atlântico devem ser atravessados para executarem seus planos expansionistas. Agora são mais que entrepostos na condição de partícipes principais e primeiros na comercialização para o Atlântico Norte, via de entrada Centr-Europa, porém surgem algumas dificuldades, que embora monstruosas, devem ser transcendidas.
A primeira delas é subtrair das mãos dos italianos e dos árabes e judeus, a possessão das mercadorias orientais (especiarias), vistos que eram eles seus atravessadores e que elevavam por demais o preço das mercadorias. A outra seria encontrar um Caminho para as Índias, que não fosse o Mediterrâneo de domínio exclusivo ítalo-arábico e finalmente a terceira que seria encontrar metais preciosos como o ouro e a prata.
A busca dos metais preciosos deve-se ao fato do grande fluxo de metais que existiu no Corredor Comercial em direção Europa-Oriente, juntamente com a fome, a guerra, as pestes que prejudicaram a extração dos mesmos em território europeu.
Como podem observar, não eram pequenas as façanhas que os lusitanos deveriam vencer. Também não é fácil de imaginar, que um empreendimento deste vulto, necessitava do aval de grandes recursos financeiros.
Somente a centralização real e o seu fortalecimento providenciam condições para que estas metas sejam atingidas. O resto da Europa não tinha nenhuma possibilidade para efetuar este projeto, visto que se mobilizavam socialmente em formas medievais e não possuíam como os portugueses, uma burguesia mercantil evoluída e próspera, tecnologicamente avançada para a época e aliada a um soberano centralizador e fortemente absolutista.
Desta forma, um cenário totalmente centralizador e abosutista, conforme exposto, poderá equacionar todas as crises internas e providenciar uma colonização de ilhas e terras ultramarinas, para uma expansão comercial-mercantil, gerando riquezas.
Naquele momento, Portugal estava na vanguarda do mundo, com um poder real fortíssimo, organizado em todas as suas estruturas, uma burguesia mercantil totalmente fiel e unida ao Rei, com grande acumulação de capital e alcançando um notável desenvolvimento científico/tecnológico inspirado no processo comercial náutico.
Estes aspectos positivos de comércio e tecnologia são os outros fatores que poderemos intuir, como elementos de origem de nossa formação cultural e não podemos negar, que o Brasil é um país altamente desenvolvido em indústria, comércio, tecnologia, artes, perante uma questão social caótica, mas que o governo em si em um Rei de Avis. As questões sociais têm também suas raízes dentro deste processo histórico-cultural que analisaremos a posteriori.

domingo, 14 de novembro de 2010

LINGUAGEM FENOMÊNICA DE NOSSA HISTÓRIA

Propomos analisar fenomenologicamente nossa história, para que possamos nos compreender como seres e identificar-nos como possibilidades transformadoras. Como um detetive histórico fazemos uma investigação radical. Desde quando escrevemos sobre centro versus periferia, mostramos nosso proceder originário. Comprovamos que até hoje isto impregnou nossa conduta e essência, ao ponto de ficarmos à mercê do mercado internacional, levando-nos a uma imobilidade sócio-econômica, afetando e cristalizando o nosso processo desenvolvimentista. No entanto, é mister, neste tópico, recuarmos um pouco mais na história e desvendarmos o feto do Estado Centralizador e Forte, pois esta seria a necessidade essencial para que se fundasse a expansão comercial. As coisas começam quando os francos atacam aos árabes que passam a ser periféricos dentro da Península Ibérica, embora fizessem parte da cultura mais avançada do planeta, na época. Os francos atacam sob o protótipo de cruzadas. Dois nobres franceses, Raimundo e Henrique de Borgonha, ganham de Afonso VI, de Leão, por casamento com suas filhas, os condados de Galiza ao norte do Minho e o de Portucalense, ao sul do mesmo rio, respectivamente. Por enquanto estas terras estavam a dispor da suseranagem de D.Afonso VI, porém a partir de sua morte e a de D.Henrique, sua esposa D.Teresa não aceita se submeter ao Rei D.Afonso VII, até que seu filho D.Afonso Henriques, funda em 1139, a dinastia de Borgonha, sob o nome de D.Afonso I, com apoio total da Igreja Católica, que dominava 2/3 da Europa, nesta época. Agora como estado independente do Reino de Leão, Portugal começa a se fortalecer para expulsar a forma de governo árabe de suas terras (retorno a dizer que era a cultura mais evoluída do planeta, neste momento); conquistar o Algarves, onde o chefe militar se confunde na pessoa do Rei de Portugal, cada vez mais forte e centralizador, tendo em vista a necessidade daquele momento, chamado de guerra de reconquista (?). Este neo-feudalismo português possui diferenças do antigo feudalismo, tendo em vista que o Rei tornava-se proprietário das terras conquistadas e os nobres não possuem delegações sobre as instituições municipais. Toda a justiça é exercida pelo soberano e ordens militares como a Ordem de Cristo (a que promoveu as grandes descobertas marítimas) está subordinada ao Rei. A arrecadação de impostos é nacional e real e muitos servos são beneficiados com a liberdade visando o povoamento de terras conquistadas. Neste momento do século XIV, Portugal é uma monarquia agrária totalmente controlado pelo Rei, desde a questão de impostos, do trabalho na terra, da produção de cereais, do funcionamento de celeiros, etc. Em seguida o Rei começa a controlar as atividades pesqueiras, que já eram anteriores à Dinastia de Borgonha, promovendo a construção de caravelas, para evoluir a pesca além da sardinha, em busca do atum e da baleia, isentando certas zonas de alguns impostos, possibilitando assim uma grande movimentação comercial. Inicia com esta dominação, um momento de grandes lucros comerciais nas mãos do Rei, controlando o mercado interno e externo. Sabemos que no tecido comercial as relações se efetuam em teias, e assim no Reino Português acontece uma grande evolução urbana, com aparecimento de cidades, enquanto que o meio rural busca as regiões litorâneas para participar deste grande evento comercial. No resto da Europa, o feudalismo já vinha se encaminhando para uma grande crise, originada da abertura das rotas comerciais dentro da Europa, possibilitando aos servos, condições melhores de vida nos novos entrocamentos das estradas comerciais, como artesãos e homens livres, participando de um novo ciclo econômico que é o surgimento da burguesia, a caminho do estado burguês. Porém, a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos criam um obstáculo imenso a este movimento, causando uma grande crise de consumo e mão de obra que se valoriza devido à diminuição populacional, advindo tensões e revoltas. No entanto, todo este estado de crise europeu vem beneficiar Portugal e fortalecer a centralização do Poder Real. Devido ao movimento comercial de pesca, nasce em Portugal uma poderosa Burguesia Mercantil, que se estende ao comércio do sal, do azeite e do vinho, assim como da agricultura em geral. Portugal também se beneficia com a influência da cultura árabe e da presença judaica com sua antiga e sábia civilização. Como a crise no interior da Europa, traz insegurança para as rotas terrestres europeias, muda por completo o quadro comercial que ligava as cidades italianas ao Flandres. Neste momento reacendem as rotas marítimas através da costa portuguesa, alcançando as regiões espanholas, holandesas e inglesas pela Mar do Norte. No final do século XIV, Portugal lidera um grupo mercantil comercial no atlântico, o que fortalece mais ainda o Poder Real. Este Poder Real vem sido exercido durante séculos e chega até aos nossos dias em terras brasileiras com várias matizes culturais. Peço ao leitor que reflita este texto e comece a pensar e a entender, porque a grande maioria da população brasileira está com seus olhos voltados para o Prefeito ("tá vendo este bueiro aqui na rua, o prefeito não conserta ele nunca!"), no Governador ("olha ali o posto de saúde que o governador não consertou o muro ainda!), no Presidente da República ("moro nesta casa porque o presidente até hoje não me deu condições de melhorar minha vida!"). Estas expressões, mescladas a milhares de outras de nosso cotidiano, tem seus fundamentos na psicogênese de nossa formação cultural. Atenção, que não estou descartando uma sociedade justa e perfeita, nem justificando nosso estado permanente de miséria social. Nem tão pouco que devemos buscar soluções para os nossos problemas cotidianos em geral, mas que estamos longe de construir uma verdadeira democracia social. E que também não podemos cruzar nossos braços e justificarmos como culturais aquilo que podemos mudar e erguer democraticamente.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

AL AMMAR É O NOVO CONVIDADO

Convidamos ao sábio Al Ammar que nos ficou conhecido através do escritor Adameve El Salem, a subir ao Trono de Salomão e assumir seu lugar no Oriente.
O escritor El Salem conviveu durante muitos anos com este sábio e acompanhou-o em diversas aventuras pelo imaginário oriental, trazendo-nos maravilhosas histórias que nos fazem reviver os tempos de Sherazad e as Aventuras do Rei Baribê.
Al Ammar não importa onde esteja, receba este chamado, pois sua sabedoria traz grandes esperanças a todos os corações. Sua forma de existir atravessando as fronteiras das lendas e os limites dos sonhos, ensina-nos a recuperar o Santo Graal de nossa existência.
Sonhar é preciso, pois viver é a necessidade do sonho atravessar os tempos, as eras e as gerações.
A sabedoria de Al Ammar é um salto quântico além das brumas do nosso pensamento, pois nos conduz a um inconsciente coletivo de um tempo eterno e presente e reluz com todas as luminárias as formas que se fizeram ausentes, mas se encontram nas dunas das cortinas das lembranças escondidas atrás das janelas do encantamento.
Hoje, através de Adameve El Salem, seu maior admirador e companheiro perpétuo, vos convido Al Ammar a fazer parte do Trono de Salomão.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

SOCIEDADE APOCALÍPTICA DOS FILHOS DE D.JOÃO III

De toda esta soma de valores acumulados em nossa sociedade alicerçada em cima de um sistema, onde o lucro imediato está aquém de qualquer outro peso; onde ser esperto é mais digno do que ser humano, não poderá esperar mais nada do que as emergentes populações de miseraveis, não mais em volta, mas também no cerne das cidades. Soma-se o descaso pela educação conduzindo a uma situação de violência insuportavel. Os últimos, penúltimos e ante-penúltimos se contentam com as migalhas da mesa do fausto banquete nacional, buscando pelas famosas bolsas de salva-vidas da pobreza nacional.
Se algum gênio do século passado imaginasse um homem pesquisando as intimidades da matéria, do DNA, do cosmos, compatuando alimentos, laboratoriando embriões, direcionando gens, computadorizando micro-sistemas, comunicando-se globalmente; jamais imaginaria seres humanos se alimentando de grãos transgenizados, dedetizados, insetitrucidados; alimentos tóxicos e cancerígenos, clima de estufa, destruição do meio ambiente em benefício do capital financeiro, seres disputando com ratos, baratas e urubus, restos de lixos, flutuando com suas dores por avenidas enfeitadas com palacetes bancários, num quadro de buquê atômico de uma guerra psicológica e desumana de um capitalismo sem regras de conduta.
Multiplicaram-se as religiões numa alienação total, para um céu além maravilhoso, acima das nuvens poluidas através dos buracos de ozônio, numa montagem engenhosa do divino e maravilhoso, inundando as mentes fantasiosas humanas de ilusões extra-vivendis, enquanto o nosso mundo não passa de uma sociedade apocalíptica dos filhos de D.João III.
Mudaram o pianista, mas o velho piano do sistema continua na sala inundado de traças e o novo músico não conhece outras partituras mais brilhantes que as antigas e se debruça sobre o teclado como uma ave de rapina. Continuamos com a mesma ética de D.João III no início de nossa colonização.
Casa Grande e Senzala confirma nossa forma de ser. A senzala é imensa e multipartida pela sociedade. É a pobreza fardada de macacões pelas ruas, pelos caminhões de lixo, pelas diaristas, pelos serventes dentro de todas as repartições, atingindo também grande contingente de funcionários, quase todos terceirizados, uma forma nova de se vender escravos.
Nossos governos proclamam que crescemos, que somos pioneiros nisto e naquilo, mas não sei em que direção, se é de um desenvolvimento sadio ou de um desenvolvimento doentio, destruindo o ecossistema, que também é o próprio homem.
A televisão nos enche de imagens e de slogans e não faltam películas hilariantes para anestesiar a massa popular, atores em forma de robôs, naves varrendo constelações, duendes e fadas interestelares lutando com espadas eletromagnéticas, enquanto a bruxa anda solta.

José Luiz Teixeira do Amaral

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

NOVO PARADIGMA DA CIÊNCIA AGRONÔMICA / DR.ANTONIO TEIXEIRA DO AMARAL JÚNIOR

EDITORIAL DA CAPA DA REVISTA HORTICULTURA BRASILEIRA Nº3 / 2010

Novo paradigma da ciência agronômica: manutenção da agrobiodiversidade sem impedir o crescimento da produção agrícola
Em decorrência da elevação da temperatura global, o grande desafio para o desenvolvimento da agricultura hoje é buscar rentabilidade, porém, preservando a agrobiodiversidade e, assim, evitando a carência de alimentos para grande parte da população mundial.
O Brasil da década de 1930 tinha 80% de sua população no meio rural produzindo alimentos para os 20% que residiam nos centros urbanos. Hoje, apenas 20% da população vive na zona rural, ao passo que os outros 80% constituem os residentes urbanos. Não vamos aqui avançar nos efeitos sociais pernósticos da urbanização sem planejamento, mas em outra questão fundamental: a nova concepção de agricultura alicerçada na segurança alimentar como política de Estado.
Atualmente, a agricultura brasileira é responsável por 40% das exportações do país. A partir da década de 1990, o Brasil passou rapidamente de importador para exportador de diversos produtos agrícolas, sobretudo de espécies que não são originárias da América do Sul, tendo a agricultura empresarial como mola propulsora. Porém, o crescimento da agricultura no Brasil, o país que possui a maior reserva florestal do planeta, ocorreu de forma não sustentável, sem a devida consciência de preservação da agrobiodiversidade e dos efeitos colaterais da expansão da fronteira agrícola sobre o aquecimento global. Os tempos agora são outros. Nesse novo contexto, os programas de melhoramento são chamados a contribuir com o agronegócio de forma a permitir que mantenham sua produtividade, porém sem agredir o meio ambiente ou avançar em terras ainda não cultivadas. O aumento da produção agrícola doravante deve ser fruto do manejo da sazonalidade de cultivo. Alguns grupos de plantas se adaptam melhor a esta exigência, como é o caso das hortaliças, que reúnem uma gama de espécies, várias delas fundamentais para a alimentação não apenas dos brasileiros, mas dos povos de todos os continentes.
Um dos pilares para a prática do melhoramento sustentável é a conservação das espécies. Neste quesito, os bancos de germoplasma são de inestimável valor. Ousando tratar desse particular tema como pré-melhoramento, não há como vislumbrar programas de melhoramento eficazes ao homem, que não agridam o meio ambiente, sem se reportar à conservação de espécies nesses bancos, quer seja ex situ ou in vivo. Na competente concepção de Francisco Ferreira e Marcos Carlos, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, “os acervos preservados nas coleções de germoplasma são o alicerce da riqueza nacional relacionada à segurança alimentar e à agricultura”. Em um esquema eficiente para preservação da agrobiodiversidade, os bancos de germoplasma ex situ e a conservação on farm devem ser complementares, levando, quando adequado, ao melhoramento participativo, realizado em conjunto com os agricultores, em suas propriedades.
Todavia, a despeito da inequívoca importância dos bancos de germoplasma, há um grande lapso entre a conservação e o efetivo uso dos acessos no melhoramento de plantas. Não raro, existem restrições ao intercâmbio de germoplasma, que de forma velada ou não, ocorrem entre instituições nacionais e, também, no relacionamento com o exterior. Os programas de melhoramento realizados pelas empresas nacionais têm utilizado a estrutura de proteção de plantas do MAPA para resguardar materiais ainda não melhorados, certamente porque contêm genes de importância para a agricultura. Ações de restrição ao intercâmbio entre as instituições nacionais têm se tornado hodiernamente um mal para o progresso dos programas de melhoramento de plantas no Brasil. Ao contrário, os programas deveriam desfrutar de harmonia, sendo conduzidos sem espírito competitivo, para que o país pudesse avançar continuamente.
Neste aspecto, são recebidas como um alento as ações mais recentes das agências de fomento no incentivo a redes de pesquisa, desenvolvimento e inovação, como ocorre em editais da CAPES, CNPq, FAP’s, com participação do FNDCT, por meio do INCT. Cita-se como exemplo o Edital Redes de Pesquisa em Agrobiodiversidade e Sustentabilidade da Agropecuária Nacional. Neste edital, “o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em conjunto com o Ministério da Educação (MEC), com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Embrapa, Fundações de Amparo à Pesquisa Estaduais (Fundação Araucária, FAPEAM, FAPEMA, FAPEPI, FAPERGS, FAPES, FAPESB, FAPESPA, FAPITEC, FUNDECT, FAPEMIG, FACEPE, FAPEMAT, FAPEG, FAPESC, FAPESP, FAPDF e FAPERN) e os CTs Agro e Hidro, atuaram em conjunto com o objetivo de apoiar projetos em redes que visem a contribuir significativamente para o avanço da agrobiodiversidade e sustentabilidade da agropecuária nacional, com investimento global estimado de R$ 51,7 milhões em capital, custeio e bolsas.” Creio, pois, que estamos diante da premente necessidade de desmitificar discursos vácuos antes proferidos pela voga do mote da sustentabilidade e tratar, de vez, deste tema, como a pauta principal do Estado no âmbito da agricultura e focar o olhar em novos padrões de desenvolvimento e inovação.
Esse assunto foi amplamente debatido na 4a. Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, ocorrida em Brasília, entre 26 e 28 de maio de 2010. Foram discutidas as dificuldades que os próprios órgãos governamentais nacionais impõem para a prospecção de acessos da biodiversidade para estudos científicos; os entraves para o intercâmbio de acessos entre instituições nacionais, que precisa ser desburocratizado; a necessidade de se pensar em arranjos locais de segurança alimentar e nutricional; a importância dos alimentos biofortificados; o uso de insumos alternativos; a migração do atual sistema de agricultura empresarial para um sistema agrícola sustentável e lucrativo; o estreitamento da interação público-privada; a maior habilidade na construção de redes com centros de convergência (e não de excelência), envolvendo instituições "âncoras", com fundamento no reconhecimento ao direito à alimentação (Emenda Constitucional 64). Assim, a agricultura precisará deixar de ser somente produtora de alimentos, fibras e energia. Indo mais além, é preciso substituir o modelo baseado na oferta (pesquisa básica alimentando a aplicada para atender aos setores secundários e terciários) por um modelo baseado na demanda, em que a pesquisa busca soluções para problemas locais e regionais. Resumindo, a atual tecnologia produtora de alimentos precisará evoluir para uma tecnologia baseada no respeito à sustentabilidade humana. Este é o grande desafio! Nesta concepção, a importância da manutenção da agrobiodiversidade não é mais “substantivo”, é “verbo”!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

COMENTÁRIO DO DR.ANTONIO TEIXEIRA DO AMARAL JÚNIOR

Gostaria que o Dr.Antonio Teixeira do Amaral Júnior, cientista da UENF, fizesse um comentário sobre o tema "O melhoramento de plantas e a relação com um novo paradigma: a sustentabilidade da humanidade no planeta". Agradeço a colaboração científica, tendo em vista nossa responsabilidade com o futuro do ser humano e do nosso planeta.