sábado, 27 de novembro de 2010

UMEF JUÍZ JAIRO MATTOS - A Escola Modelo de Educação na Grande Vitória

No mês passado visitei no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro uma Exposição sobre o Islã. Saí encantado, por três andares resplandecendo a cultura árabe e sua influência a partir da expansão muçulmana, o que tem tudo a ver conosco. Por quê? Pois em 711, o Califa Gibral Al Tarik entrou na região ibérica e iniciou assim a grande influência árabe em Portugal e Espanha. Por esta razão chamamos o estreito entre Europa e África de Estreito de Gibraltar (homenagem ao Califa Gibral Al Tarik).
Mas vamos deixar isto de lado e falar de uma outra magnífica exposição que pude visitar, denominada de Mostra Cultural, numa Escola no Bairro de São Torquato, Município de Vila Velha, pertencente à Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo.
Esta Mostra Cultural foi além das outras que já vi. Envolvendo todos os partícipes da comunidade escolar (Diretor, Pedagogos, Coordenadores, Professores, Alunos, Funcionários de Apoio, Comunidade), conseguiu na diversidade de seus trabalhos demonstrados tecer uma unidade de fundamento histórico-cultural-social, abrangendo a interdisciplinaridade sem se perder na fluidez do inter-diálogo, mas ampliando para uma arte dialógica com a sociedade, o estado, o país, o planeta e o universo. Conduzindo para uma reflexão contextual da universalização cidadã. Reintegrando numa síntese física, biológica, psíquica, cultural, social e histórica a verdade maior do ser humano e seu destino planetário. Provando que o novo rompe como semente de idéia na alma humana, no campo multidimensional galgando a complexidade do conhecimento, elevando-se sobre a redução do saber, quando perdido nos meandros de um controle estacionário.
Percebemos também a sintonia presente da transversalidade cultural, avançando além das informações inerentes, mas caminhando para uma fluidez do desenvolvimento emergente e dinâmico do conhecimento contextual.
Isto aconteceu no sábado, dia 20/11/2010, onde a Escola Jairo Mattos movimentava-se como um organismo vivo, producente, eficaz, eficiente resplandecido nas multifaces de todos os atores e platéia, que se intercambiavam de posições, numa demonstração que o povo brasileiro é capaz de sortir cultura e conhecimento, quando o ambiente lhe é oportuno e respeituoso.
Esta Mostra ecoou em mim, como um grande grito de liberdade republicana e democrática, de independência, de aquisição de valores, de respeito à vida, ao meio ambiente e de responsabilidade com o futuro. Ela traduziu um salto sobre a falsa racionalidade científica, porque conjugou as partes dos objetos produzidos numa totalidade de objetivo, numa rima de análise e síntese.
Olhe, que tudo isto aconteceu numa região pobre, massacrada ao longo dos séculos pelo violento capitalismo brasileiro, mas que demonstrou um avanço transcendental que com certeza refletirá nas novas gerações.
Isto que é Educação de Verdade e não Educação de Discurso. Portanto, Parabéns ao DIRETOR MARCELO PEREIRA, AOS PEDAGOGOS, COORDENADORES, PROFESSORES, ELEMENTOS DE APOIO E COMUNIDADE DE SÃO TORQUATO-MUNICÍPIO DE VILA VELHA-ES.
José Luiz Teixeira do Amaral

A FORTE CENTRALIZAÇÃO DO PODER NO BRASIL, por José Luiz Teixeira do Amaral

Mergulhando nas profundidades de nossas raízes, numa linguagem fenomênica de nossa história, vamos demonstrar porque há uma forte centralização do poder no Brasil.
A presidência do Brasil é uma realeza disfarçada e por mais que se modifique nossa Constituição, como a de 1988, com requinte parlamentarista, uma vez que o governo está refém de câmaras, assembléias e congresso, na prática é dos atos governamentais e das maõs dos dirigentes que o povo espera as grandes mudanças fundamentais da Nação. Por que o povo procede assim, desviando seus olhos dos poderes legislativo e judiciário?
Como um psicanalista historiador, ou um detetive da história, interpretando o passado longínquo, relembramos que quando os italianos(ainda não Itália, nesta época) que dominavam o comércio do Mediterrâneo para a Europa, se viram impossibilitados de controlarem as vias terrestres no interior do continente europeu, devido à Guerra do Cem Anos (1337-1453), onde França e Inglaterra disputavam territórios e a definição de suas fronteiras, gerando uma desorganização social, juntamente com a Peste Negra proveniente da falta de saneamento frente ao aumento populacional e à situação bélica; encontraram estes povos italianos uma solução no leste europeu, usando os portos portugueses (Portuscalis = Portugal = Portos das Gálias), para ancorarem suas embarcações, reabastecerem de víveres e água, para galgarem a Europa pelo norte.
Os portugueses aproveitaram esta oportunidade mui sabiamente, envolvendo-se nestas baldiações marítimas ao ponto de dominá-las e adquirir a vanguarda das mesmas, favorecidos pela sua elite mercantil, seus conhecimentos marítimos, sua boa produção agrícola, sua experiência pesqueira, juntamente com um espírito dinâmico de trabalho que certamente provém do caldeirão de muitos povos que os formaram.
O leitor pode observar que o grupo mercantil português vai se tornando aos poucos, cada vez mais forte e centralizado em torno de um Soberano. Surge uma nova crise em Portugal. Em 1383 falece o Rei D.Fernando, que não possuía filho varão e sua única filha D.Beatriz era casada com D.João I, Rei de Castela.
Isto não foi aceito de forma nenhuma pela burguesia mercantil, pois retrocederiam ao tempo, caindo nas mãos de um feudalismo ultrapassado para o momento econômico que sustentavam.
Como resposta ao trono vazio, entre 1383 a 1385, provocaram uma guerra contra Castela e aclamaram o Mestre Avis, para Rei de Portugal com o título de D.João I, de forma que este filho bastardo de D.Pedro I, pai de D.Fernando, inicia a Dinastia de Avis, após uma vitória esplendorosa em Aljubarrota.
Aí reside um ponto fundamental e o cerne de uma questão tratada com respeito à centralização e ao fortalecimento do poder, de onde gira toda esta questão que nos envolve até aos dias atuais.
Da forma supra citada, Portugal explode como Estado Moderno Inaugural, dentro da Europa, com uma burguesia comercial-mercantil fortíssima e deixa para trás todas as crises envelhecidas do feudalismo decadente e fracassado para uma nova atualidade sócio-econômica.
A Revolução de Avis incrementa na mentalidade pública a supremacia portuguesa, a independência e o absolutismo do poder real. A nobreza que já não encontra espaço de sobrevivência, busca como âncora de salvação sua dependência ao Rei e procura no sentido de expansão em prática naquele momento um objetivo de cruzada.
Percebem que os portais do Atlântico devem ser atravessados para executarem seus planos expansionistas. Agora são mais que entrepostos na condição de partícipes principais e primeiros na comercialização para o Atlântico Norte, via de entrada Centr-Europa, porém surgem algumas dificuldades, que embora monstruosas, devem ser transcendidas.
A primeira delas é subtrair das mãos dos italianos e dos árabes e judeus, a possessão das mercadorias orientais (especiarias), vistos que eram eles seus atravessadores e que elevavam por demais o preço das mercadorias. A outra seria encontrar um Caminho para as Índias, que não fosse o Mediterrâneo de domínio exclusivo ítalo-arábico e finalmente a terceira que seria encontrar metais preciosos como o ouro e a prata.
A busca dos metais preciosos deve-se ao fato do grande fluxo de metais que existiu no Corredor Comercial em direção Europa-Oriente, juntamente com a fome, a guerra, as pestes que prejudicaram a extração dos mesmos em território europeu.
Como podem observar, não eram pequenas as façanhas que os lusitanos deveriam vencer. Também não é fácil de imaginar, que um empreendimento deste vulto, necessitava do aval de grandes recursos financeiros.
Somente a centralização real e o seu fortalecimento providenciam condições para que estas metas sejam atingidas. O resto da Europa não tinha nenhuma possibilidade para efetuar este projeto, visto que se mobilizavam socialmente em formas medievais e não possuíam como os portugueses, uma burguesia mercantil evoluída e próspera, tecnologicamente avançada para a época e aliada a um soberano centralizador e fortemente absolutista.
Desta forma, um cenário totalmente centralizador e abosutista, conforme exposto, poderá equacionar todas as crises internas e providenciar uma colonização de ilhas e terras ultramarinas, para uma expansão comercial-mercantil, gerando riquezas.
Naquele momento, Portugal estava na vanguarda do mundo, com um poder real fortíssimo, organizado em todas as suas estruturas, uma burguesia mercantil totalmente fiel e unida ao Rei, com grande acumulação de capital e alcançando um notável desenvolvimento científico/tecnológico inspirado no processo comercial náutico.
Estes aspectos positivos de comércio e tecnologia são os outros fatores que poderemos intuir, como elementos de origem de nossa formação cultural e não podemos negar, que o Brasil é um país altamente desenvolvido em indústria, comércio, tecnologia, artes, perante uma questão social caótica, mas que o governo em si em um Rei de Avis. As questões sociais têm também suas raízes dentro deste processo histórico-cultural que analisaremos a posteriori.

domingo, 14 de novembro de 2010

LINGUAGEM FENOMÊNICA DE NOSSA HISTÓRIA

Propomos analisar fenomenologicamente nossa história, para que possamos nos compreender como seres e identificar-nos como possibilidades transformadoras. Como um detetive histórico fazemos uma investigação radical. Desde quando escrevemos sobre centro versus periferia, mostramos nosso proceder originário. Comprovamos que até hoje isto impregnou nossa conduta e essência, ao ponto de ficarmos à mercê do mercado internacional, levando-nos a uma imobilidade sócio-econômica, afetando e cristalizando o nosso processo desenvolvimentista. No entanto, é mister, neste tópico, recuarmos um pouco mais na história e desvendarmos o feto do Estado Centralizador e Forte, pois esta seria a necessidade essencial para que se fundasse a expansão comercial. As coisas começam quando os francos atacam aos árabes que passam a ser periféricos dentro da Península Ibérica, embora fizessem parte da cultura mais avançada do planeta, na época. Os francos atacam sob o protótipo de cruzadas. Dois nobres franceses, Raimundo e Henrique de Borgonha, ganham de Afonso VI, de Leão, por casamento com suas filhas, os condados de Galiza ao norte do Minho e o de Portucalense, ao sul do mesmo rio, respectivamente. Por enquanto estas terras estavam a dispor da suseranagem de D.Afonso VI, porém a partir de sua morte e a de D.Henrique, sua esposa D.Teresa não aceita se submeter ao Rei D.Afonso VII, até que seu filho D.Afonso Henriques, funda em 1139, a dinastia de Borgonha, sob o nome de D.Afonso I, com apoio total da Igreja Católica, que dominava 2/3 da Europa, nesta época. Agora como estado independente do Reino de Leão, Portugal começa a se fortalecer para expulsar a forma de governo árabe de suas terras (retorno a dizer que era a cultura mais evoluída do planeta, neste momento); conquistar o Algarves, onde o chefe militar se confunde na pessoa do Rei de Portugal, cada vez mais forte e centralizador, tendo em vista a necessidade daquele momento, chamado de guerra de reconquista (?). Este neo-feudalismo português possui diferenças do antigo feudalismo, tendo em vista que o Rei tornava-se proprietário das terras conquistadas e os nobres não possuem delegações sobre as instituições municipais. Toda a justiça é exercida pelo soberano e ordens militares como a Ordem de Cristo (a que promoveu as grandes descobertas marítimas) está subordinada ao Rei. A arrecadação de impostos é nacional e real e muitos servos são beneficiados com a liberdade visando o povoamento de terras conquistadas. Neste momento do século XIV, Portugal é uma monarquia agrária totalmente controlado pelo Rei, desde a questão de impostos, do trabalho na terra, da produção de cereais, do funcionamento de celeiros, etc. Em seguida o Rei começa a controlar as atividades pesqueiras, que já eram anteriores à Dinastia de Borgonha, promovendo a construção de caravelas, para evoluir a pesca além da sardinha, em busca do atum e da baleia, isentando certas zonas de alguns impostos, possibilitando assim uma grande movimentação comercial. Inicia com esta dominação, um momento de grandes lucros comerciais nas mãos do Rei, controlando o mercado interno e externo. Sabemos que no tecido comercial as relações se efetuam em teias, e assim no Reino Português acontece uma grande evolução urbana, com aparecimento de cidades, enquanto que o meio rural busca as regiões litorâneas para participar deste grande evento comercial. No resto da Europa, o feudalismo já vinha se encaminhando para uma grande crise, originada da abertura das rotas comerciais dentro da Europa, possibilitando aos servos, condições melhores de vida nos novos entrocamentos das estradas comerciais, como artesãos e homens livres, participando de um novo ciclo econômico que é o surgimento da burguesia, a caminho do estado burguês. Porém, a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos criam um obstáculo imenso a este movimento, causando uma grande crise de consumo e mão de obra que se valoriza devido à diminuição populacional, advindo tensões e revoltas. No entanto, todo este estado de crise europeu vem beneficiar Portugal e fortalecer a centralização do Poder Real. Devido ao movimento comercial de pesca, nasce em Portugal uma poderosa Burguesia Mercantil, que se estende ao comércio do sal, do azeite e do vinho, assim como da agricultura em geral. Portugal também se beneficia com a influência da cultura árabe e da presença judaica com sua antiga e sábia civilização. Como a crise no interior da Europa, traz insegurança para as rotas terrestres europeias, muda por completo o quadro comercial que ligava as cidades italianas ao Flandres. Neste momento reacendem as rotas marítimas através da costa portuguesa, alcançando as regiões espanholas, holandesas e inglesas pela Mar do Norte. No final do século XIV, Portugal lidera um grupo mercantil comercial no atlântico, o que fortalece mais ainda o Poder Real. Este Poder Real vem sido exercido durante séculos e chega até aos nossos dias em terras brasileiras com várias matizes culturais. Peço ao leitor que reflita este texto e comece a pensar e a entender, porque a grande maioria da população brasileira está com seus olhos voltados para o Prefeito ("tá vendo este bueiro aqui na rua, o prefeito não conserta ele nunca!"), no Governador ("olha ali o posto de saúde que o governador não consertou o muro ainda!), no Presidente da República ("moro nesta casa porque o presidente até hoje não me deu condições de melhorar minha vida!"). Estas expressões, mescladas a milhares de outras de nosso cotidiano, tem seus fundamentos na psicogênese de nossa formação cultural. Atenção, que não estou descartando uma sociedade justa e perfeita, nem justificando nosso estado permanente de miséria social. Nem tão pouco que devemos buscar soluções para os nossos problemas cotidianos em geral, mas que estamos longe de construir uma verdadeira democracia social. E que também não podemos cruzar nossos braços e justificarmos como culturais aquilo que podemos mudar e erguer democraticamente.