sexta-feira, 22 de abril de 2011

FLAMENGUISTA MORRE DE SUSTO NA BANCA DE REVISTA(O ÓBVIO É O ÓPIO DO POVO)

Marcão era flamenguista de matar ou morrer. Ficou na segunda opção. Naquele dia, acordou cedinho de meia, cueca e camisa flamenguista, só não botou calça com as cores do time, para ninguém lhe chamar de palhaço.
Não assistiu o jogo à noite entre flamengo e vasco, porque tomou todas que todos não tomaram e dormiu como uma porca prenha num canto da sala.
Acordou meio tonto, meio zonzo, meio lelé da cuca e foi direto pra banca: vasco 10 e flamengo 0. Pronto! Caiu ali mesmo, morto, sem possibilidade alguma de volta.
O susto foi tão grande que não havia mais susto nenhum para assustar alguém. Tanto prova que todos liam nos jornais absurdos incríveis, como o descontrole do Banco Central, o obsceno explícito, aumento da gasolina versus país campeão do pré sal, corrupção a todo vapor, tráfico, tráfego, tóxico, trágico, salário de miséria para os trabalhadores, gente morrendo nos corredores dos hospitais (e não foram trazidos nem da Líbia, nem do Iraque, nem do Japão, nem da Faixa de Gaza e nem do Afeganistão, nem das etecéteras das mortandades mundiais). O óbvio é o ópio do povo. Porém, ninguém se assustava com este festival de horrores brasileiros.
A não ser, que da próxima vez, o dono da banca se descuide e coloque de novo o jornal de cabeça pra baixo com o símbolo do vasco e do flamengo em resultado matematicamente mortífero.

domingo, 17 de abril de 2011

CONJUNTEOSIA EM FAMÍLIA

Hoje minha filha Danielle me informou que ela e seu filho Rodrigo estavam com conjuntivite. Realmente tem uma enorme onda de conjuntivite em toda a nossa região. Eu lhe recomendei que fosse com o menino a um médico, embora todos nós já saibamos de antemão, como cuidar desta bactéria.
Mas este não é o problema. Na hora do almoço eu também adoeci de um olho! Peguei pimentivite!!!
Claro que vocês não sabem o que seja isto. É que adoro pimentas! E daquelas fortes mesmo, chamadas de malaguetas. Peguei uma com a mão. A danada estava vermelhinha a toda pólvora.
Depois esqueci e cocei meu olho direito! Ah! Meu Deus! Você meu amigo, não sabe o que é pimentivite. Fui até a avenida para ver se aquilo parava de doer. Certas pessoas me olhavam de rabo de ôlho, como a dizer: este aí, fuma baseado demais!
Pimentivite não quero nem para o Bin Laden! Deus que me livra!
A minha filha também está passando por uma fase difícil. Afinal de contas a conjuntivite pegou ela em conjunto com seu filho, ou melhor atacou-os em honra conjunta do próprio nome!
Para o Rodrigo, pode ser que seja uma lembrança de infância. Um inesquecível fato em que seus olhos ficaram vermelhos e coçaram muito. Tudo para uma criança serve para seu álbum de recordações.
Ele também pode pensar que seu avô é mais menino do que ele!

sábado, 2 de abril de 2011

POESIA DA NÃO-POESIA! CHEGA DE HIPOCRISIA!

Prefiro escrever a não-poesia. Não que ela não possua magia.
Nem que contenha o cântaro onde se bebia o conhecimento
dos antigos.
Não quero escrever esta poesia burguesa. Esta dos engravatados,
dos almofadinhas, dos que se engalanam com uma cervejinha de final
de semana,
sem perceber que é necessário dar um fim à lama, à difâmia,
à covardia com aqueles que erguem o palmo a palmo de cada dia.
Não quero falar dos palácios com telhas coloniais aureleando as
orlas marítimas,
preciso me concentrar nos cacos de telhas quebradas, jogados ao longe, expulsos do paraíso, como os frutos podres que caem das árvores e vivem o mesmo drama adâmico, pisoteados e sorvidos pelos vermes. Aprender a lição das horas esquecidas nos umbrais das janelas. Conhecer a forma velada de ler nas folhas secas, nos papelzinhos picados sobre a avenida, nas nuvens desaparecidas, as histórias que não foram contadas.
Não tenho necessidade da falar da beleza de minha infância, nem dos doces de coco sobre as toalhas rendadas de parabéns pra você,
quero me redimir com as andorinhas tombadas sobre minhas setas infalíveis,
de seus pescoços sangrando sob a minha inconsciência infantil,
para onde elas foram, por que às vezes revoam em meus sonhos noturnos e acordo assustado,
e eu ainda vou escrever poemas para os pássaros?
Vou relatar dos ninhos trançados e dos ovos branquinhos esperando o explodir de suas cascas?
Prefiro por isto falar da não-poesia. De Regina, por exemplo, por que se foi tão cedo?
Prefiro ter consciência de alguém que nunca vi, um não-alguém aqui. Um que não me deu bom dia, porque não atravessou meu dia, mas que com certeza, viveu em algum lugar, alguma rua, alguma casa, sofreu, chorou, dormiu, acordou, morreu.
Do simples, do mais simples, da pura verdade onde quero extrair o supra-sumo da poesia.
Não que ele não tenha sua elegância, não possua magnitude, mas porque ele está mais perto do centro de todas as atrações. Um centro não matematicamente traçado no círculo. Um centro que ancorou na periferia. Não quero nenhum prêmio. Se quiserem me dar alguma honraria, tenham consciência dos que foram banidos, do que foram expulsos, dos que viveram sozinhos a dor da solidão, dos que foram até ao fundo do poço e se banharam em seu lodo e com ele construiram o outro lado da face, para que quando saissem ao sol, pudessem pelo menos oferecer um sorriso novo, um broto de perdão, não com o coração totalmente aberto no peito, mas ainda com as chagas abertas no peito mostrando o coração.